Mover montanhas e amaldiçoar figueiras

 

Alguma vez  pensaste porque é que Jesus disse algumas das coisas que disse ?

 

Por exemplo, Marcos 11:22-24 indica que se, em fé, pedirmos a uma montanha para se atirar para o mar isso pode ser realizado.

 

No entanto, porque é que poderia eu querer pegar numa montanha e atirá-la par o mar ? Qual seria o sentido em fazer isto para alem de me fazer sentir algo poderoso, criar uma nova paisagem no horizonte e deixar os naturalistas muito zangados ? Será que Jesus nos ensina a utilizar a nossa fé caprichosamente  para atingir qualquer das nossas fantasias ?

 

Por vezes penso que Jesus utilizava ideias pelo seu valor de "choque" e assim obter a atenção dos ouvintes. Lembras-te de quando ele disse que se a tua mão direita te ofende, deverias cortá-la - será que ele tencionava que o fizéssemos? Ou se o teu olho direito te causa pecar, arranca-o ? Se estas passagens fossem tomadas literalmente haveria muitas pessoas a circular cegas de um olho ou com uma mão amputada. Cristo utilizou o exagero para realçar a ideia que queria transmitir. A ideia era que devemos tratar do pecado assertivamente antes que o pecado tome conta da nossa vida.

 

Lançar uma montanha no oceano parece ser uma frase exagerada. Cristo continua a passagem dizendo que aquele que "não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, assim lhe será feito".  Sentimo-nos bem não é ? O facto de Deus nos dar exactamente o que nós queremos através da fé ao ponto de podermos lançar uma montanha no mar por nossa iniciativa é realmente fascinante. Que se fecharmos os olhos e orarmos arduamente, tal como fazemos quando assopramos as velas de um bolo de aniversário - receberemos o que quisermos. Será isto o que Cristo nos estava a transmitir ?

 

Jesus colocava grande importância nas orações de fé. Ele não queria que os seus seguidores utilizassem repetições sem sentido. Ele disse-lhes para evitarem sessões de oração publica cuja intenção era mais para impressionar os outros do que comunicar com Deus. Oração não é simplesmente uma resposta convencional religiosa  dirigida á divindade. Jesus comparou a oração a uma criança a pedir ao seu Pai por algo e acreditando que o seu Pai iria responder. O desejo do nosso Pai celestial de nos dar o que pedimos é tão grande que sabe de antemão as coisa que realmente necessitamos (Mateus 6:8).

 

Então o que significa Marcos 11:22-24 ? Claro que existe um contexto. Existem lições poderosas que têm a ver com a fé e a oração. No dia anterior, Jesus pelo seu poder divino, causou uma arvore cheia de folhas mas sem qualquer fruto a secar. Isto foi para ensinar os seus discípulos de que é possível "parecer" espiritual e ao mesmo tempo não produzir a fruta que Deus requer de nós. Ele também tinha retirado do templo aqueles que exploravam a casa de oração para lucro pessoal. Aqueles que ensinam a doutrina da "saúde e riqueza" devem prestar atenção a esta história.

 

Quando relembrando a passagem da figueira Jesus diz aos seus discípulos para terem "fé em Deus". Será que lhes estava a dizer que eles poderiam também através da fé amaldiçoar figueiras ? Eu penso que não. Ou estaria ele a dizer que uma vida "religiosa" sem fé em Deus era inútil, e não têm qualquer importância se secar e morrer ?  O contexto dos versículos 25-26 mostra também que a oração feita sem perdoarmos aqueles que nos possam ter feito mal, tal como queremos que Deus nos faça, não será atendida ou realizada. Portanto esta passagem demonstra que não obtemos automaticamente tudo o que pedimos em oração - existem condições de fé para com Deus, dos frutos que ele requer de nós, e do perdão que mostramos a outros.

 

É imprudente deixar com que uma passagem da Escritura afirme a totalidade da doutrina sobre o assunto em questão. Marcos 11:22-24 é uma de muitas referencias sobre oração em fé. A oração em fé reafirma a soberania de Deus, e não a nossa - que a Sua vontade seja feita, e não a nossa (Mateus 6:10). Este assunto toca nos problemas inerentes à filosofia de "pede e terás" como estilo de oração - a implicação de que através da fé temos a habilidade de torcer a vontade de Deus para que nos dê o que bem pensamos. Este tipo de raciocínio implica incorrectamente que a soberania de Deus é subserviente à nossa.

 

Mateus 7:7-11 explica que podemos pedir ao Pai e ele nos dará "boas coisas". Será que isto quer dizer que Deus nos dá o que é bom para o nosso desenvolvimento a longo prazo, tal como um pai faz para com os seus filhos ? Se desejarmos algo durante as nossa orações que não é bom para nós, será que Deus deve honrar esse pedido ?

 

Tiago, irmão de Jesus, exortou os Cristãos na maneira correcta de pedir "Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e agitada pelo vento" (Tiago 1:6). Não assumas, diz ele, que receberás qualquer resposta ás tuas orações se és vacilante e sem compromisso na tua própria petição. É fundamental estarmos convencidos do valor da oração. Jesus afirma o mesmo na referencia que fez sobre a nossa habilidade para deslocarmos montanhas. É impossível impressionar Deus sem a fé que acredita que Ele é quem nos diz ser, e que Ele recompensa aqueles que o procuram diligentemente (Hebreus 11:6).

 

Um grande problema que os leitores da epistola de Tiago tinham era o facto de deixarem os seus próprios desejos dominarem as suas orações. "Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tiago 4:3) O que queriam eles que Deus lhes desse ? Existem várias sugestões - queriam sucesso pelas metas definidas no mundo (4:4); Para que Deus estivesse do lado deles e lhes ganhasse as suas batalhas (4:1-2); para que cargos ou posições de chefia que pretendiam fossem realizados (3:4) etc. Rectidão, argumenta Tiago, têm a ver com a fé.  A definição da fé é acreditar que Deus fará o que Ele diz que fará (2:23). Um vida de fé envolve fazer paz com outros (3:18),  evitar causar discórdia empurrando sempre a nossa causa ou ponto de vista. A oração efectiva do homem justo, que vale muito, é uma oração para os outros, para aqueles que se encontram doentes, os que estão em dificuldades, e nunca uma oração que é sujeita a egoísmo (4:16).

 

Orar com fé nem sempre desenrola conforme as nossas expectativas. Oração é sobre acreditar em Deus e entregar as situações nas Suas mãos. É sobre mostrar amor através da suplicação a Deus pelos outros. Por vezes, quando oramos, apresentamos a Deus o problema assim como a nossa solução favorita , em vez de deixar que seja Ele a escolher a resposta para nós. Não é errado fazer um pensamento prévio e oferecer as nossas ideias durante a oração, no entanto será que estamos a limitar as respostas de Deus através do que pensamos ser as respostas adequadas ? Necessitamos de abrir as nossas mentes às maravilhas infinitas de Deus - "Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera" (Efésios 3:20).

 

Todos necessitamos e damos valor à intervenção de Deus. Na sua soberania Deus pode e escolhe providenciar-nos das coisas que são boas para nós de acordo com a abundância da sua graça. Ele procura dar-nos presentes e bênçãos. No entanto, essas bênçãos não são fornecidas por reclamação ou por nossa exigência. Transformar-nos em Cristãos não nos dá direito de mencionar o que queremos e automaticamente recebe-lo. Nós compartilhamos no sofrimento de toda a humanidade.

 

Jesus ensinou que a oração é muito mais sobre o que podemos dar do que o que podemos receber. Deus não é um talismã de sorte ou um bilhete de lotaria premiado. Do ponto de vista de Jesus a oração é um relacionamento especial para ser guardado no coração, um relacionamento que nos trás conforto e esperança de que o grande Deus do Universo tem um interesse especial em cada um de nós. Devemos desejar que através de nós Ele expresse esse mesmo interesse para com outros.

 

 

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Artigo Original em Inglês:             James R Henderson 2005-11         "Moving mountains and cursing fig trees"

Tradução:                                    José Ribeiro 2005-11